segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, meu maestro soberano.

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927 — Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994), mais conhecido como Tom Jobim, foi um compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro.

É considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da Bossa Nova. Tom Jobim é um dos nomes que melhor representa a música brasileira na segunda metade do século XX e é praticamente uma unanimidade entre críticos e público em termos de qualidade e sofisticação musical.

Biografia

Nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro e um ano depois a família mudou-se para Ipanema, onde foi criado. A ausência do pai durante a infância e adolescência lhe impôs um contido ressentimento, desenvolvendo no maestro, uma profunda relação com a tristeza e o romantismo melódico, transferido peculiarmente para as construções harmônicas e melódicas. Aprendeu a tocar violão e piano em aulas, entre outros, com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da técnica dodecafônica no Brasil.

Vida pessoal

No dia 15 de outubro de 1949, Antônio Carlos Jobim casou-se com Thereza Otero Hermanny, com quem teve dois filhos, Paulo (n. 1950) e Elizabeth (1957).

Em 30 de abril de 1986, ele casou-se com a fotógrafa e vocalista da extinta Banda Nova Ana Beatriz Lontra[1], que tinha a mesma idade de sua filha Elizabeth. Tom e sua segunda esposa tiveram dois filhos juntos, João Francisco (1979) e Maria Luiza (1987).[2]

Trajetória profissional

Pensou em trabalhar como arquiteto e chegou a se empregar em um escritório, mas logo desistiu e resolveu ser pianista. Tocava em bares e boates em Copacabana, como no Beco das Garrafas no início dos anos 50, até que em 1952 foi contratado como arranjador pela gravadora Continental. Além dos arranjos, também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical. Datam dessa época as primeiras composições.

A primeira canção gravada, Incerteza (com Newton Mendonça), na voz de Mauricy Moura. Tereza da Praia, parceria com Billy Blanco, gravada por Lúcio Alves e Dick Farney pela Continental (1954), foi o primeiro sucesso. Depois disso participou de gravações e compôs com Billy Blanco a Sinfonia do Rio de Janeiro, além de outras parcerias com a cantora e compositora Dolores Duran (Se é por Falta de Adeus, Por Causa de Você).

Em 1956 musicou a peça Orfeu da Conceição com Vinícius de Moraes, que se tornou um de seus parceiros mais constantes. Dessa peça fez bastante sucesso a canção antológica Se Todos Fossem Iguais a Você, gravada diversas vezes. Tom Jobim fez parte do núcleo embrionário da bossa nova. O LP Canção do Amor Demais (1958), em parceria com Vinícius, e interpretaçãoes de Elizeth Cardoso, foi acompanhado pelo violão de um baiano até então desconhecido, João Gilberto. A orquestração é considerada um marco inaugural da bossa nova, pela originalidade das melodias e harmonias. Inclui, entre outras, Canção do Amor Demais, Chega de Saudade e Eu Não Existo sem Você. A consolidação da bossa nova como estilo musical veio logo em seguida com o 78 rotações Chega de Saudade, interpretado por João Gilberto, lançado em 1959, com arranjos e direção musical de Tom, selou os rumos que a música popular brasileira tomaria dali para frente. No mesmo ano foi a vez de Sílvia Telles gravar Amor de Gente Moça, um disco com 12 canções de Tom, entre elas Só em Teus Braços, Dindi (com Aloysio de Oliveira) e A Felicidade (com Vinícius).

Tom foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York em 1962. No ano seguinte compôs, com Vinícius, um dos maiores sucessos e possivelmente a canção brasileira mais executada no exterior: Garota de Ipanema. Nos anos de 1962 e 1963 a quantidade de "clássicos" produzidos por Tom é impressionante: Samba do Avião, Só Danço Samba (com Vinícius), Ela é Carioca (com Vinícius), O Morro Não Tem Vez, Inútil Paisagem (com Aloysio), Vivo Sonhando. Nos Estados Unidos gravou discos (o primeiro individual foi The Composer of 'Desafinado' Plays, de 1965), participou de espetáculos e fundou sua própria editora, a Corcovado Music.

O sucesso fora do Brasil o fez voltar aos EUA em 1967 para gravar com um dos grandes mitos americanos, Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim, com arranjos de Claus Ogerman, incluiu versões em inglês das canções de Tom (The Girl From Ipanema, How Insensitive, Dindi, Quiet Night of Quiet Stars) e composições americanas, como I Concentrate On You, de Cole Porter. No fim dos anos 60, depois de lançar o disco Wave (com a faixa-título, Triste, Lamento entre outras instrumentais), participou de festivais no Brasil, conquistando o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção (Rede Globo), com Sabiá, parceria com Chico Buarque, interpretado por Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy. Sabiá conquistou o júri, mas não o público, que vaiou ostensivamente a interpretação diante dos constrangidos compositores.

Aprofundando seus estudos musicais, adquirindo influências de compositores eruditos, principalmente Villa-Lobos e Debussy, Tom Jobim prosseguiu gravando e compondo músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz (Stone Flower) e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira. É o caso de "Matita Perê" e "Urubu", lançados na década de 70, que marcam a aliança entre a sofisticação harmônica de Tom e sua qualidade de letrista. São desses dois discos Águas de Março, Ana Luiza, Lígia, Correnteza, O Boto, Ângela. Também nessa época grava discos com outros artistas, casos de Elis e Tom, com Elis Regina, Miúcha e Tom Jobim e Edu e Tom. Passarim, de 1987, é a obra de um compositor já consagrado, que pode desenvolver seu trabalho sem qualquer receio, acompanhado por uma banda grande, a Banda Nova. Além da faixa-título, Gabriela, Luiza, Chansong, Borzeguim e Anos Dourados (com Chico Buarque) são os destaques.

Nordeste já

Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We are the world, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985) abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.

É difícil escolher os mais significativos entre os mais de 50 discos de que participou, como intérprete ou arranjador. Todos eles têm algo de inovador, de diferente e especial. Seu último CD, Antônio Brasileiro, foi lançado em 1994, pouco antes da sua morte de parada cardíaca quando estava se recuperando de um câncer na bexiga, em dezembro, nos EUA.

Biografias foram lançadas, entre elas Antônio Carlos Jobim, um Homem Iluminado, de sua irmã Helena Jobim, Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, de Sérgio Cabral, e Tons sobre Tom, de Márcia Cezimbra, Tárik de Souza e Tessy Callado.

O maestro no Brasil e no exterior

Inexplicavelmente, a genialidade de Tom Jobim continua sempre mais reconhecida nos palcos internacionais que entre os brasileiros, que estão em melhores condições de apreciar a beleza de suas canções, por exemplo no que se refere à concatenação melodia e letra. Como traduzir "Caingá candeia, é o Matita Pereira(...)" "Passarinho na mão, pedra de atiradeira(...)" da canção "Águas de Março"?

O Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro foi renomeado Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão - Antônio Carlos Jobim ', só por pressão junto ao Congresso Nacional de uma comissão de notáveis, formada por Chico Buarque, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, Antônio Cândido, Antônio Houaiss e Edu Lobo, criada e pessoalmente coordenada pelo crítico Ricardo Cravo Albin.

Composições consagradas

* "Chega de Saudade" (1957), o marco inicial da bossa nova
* "Água de Beber"
* "Desafinado" (1959), vencedora de três prêmios Grammy
* "Samba de Uma Nota Só" (1959)
* "A Felicidade" e "O Nosso Amor", do filme Orfeu Negro (1959)
* "Insensatez" (com Vinícius de Moraes) (1960)
* "Garota de Ipanema" (com Vinícius de Moraes) (1963)
* "Fotografia" (1965)
* "Triste" (1967)
* "Wave" (1967)
* "Águas de Março" (1970)
* "Luiza"
* "Corcovado"
* "Dindi"
* "Retrato em Branco e Preto" (com Chico Buarque)
* "Samba do Avião"
* "Anos Dourados"
* "Eu te Amo"
* "Meditação"
* "Só Tinha de Ser com Você" (1974)
* "Sabiá"
* "Eu sei que vou te amar"
* "Falando de amor"
* "Ela é carioca"
* "Bebel"

Discografia

* Sinfonia do Rio de Janeiro - 1954
* Tom Jobim e Billy Blanco - 1960
* Brasília e Sinfonia da Alvorada - 1961
* Antônio Carlos Jobim - 1963
* Caymmi visita Tom - 1964
* Antônio Carlos Jobim com Nelson Riddle e sua Orquestra - 1964
* Getz/Gilberto featuring A. C. Jobim - 1964
* A Certain Mr. Jobim - 1965
* Love Strings & Jobim (Tom Jobim Apresenta) - 1966
* Wave - 1967
* Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim - 1967
* Compacto Duplo - 1968
* Tide - 1970
* Stone Flower - 1970
* Sinatra & Company.s - 1971
* Disco de Bolso - O Tom de Tom Jobim e o tal de João Bosco - 1972
* Matita Pere/Jobim - 1973
* Elis & Tom (com Elis Regina)- 1974
* Urubu - 1976
* Compacto Duplo - 1977
* Miúcha & Antônio Carlos Jobim - 1977
* Tom, Vinícius, Toquinho, Miúcha, gravado ao vivo no Canecão - 1977
* Miúcha e Tom Jobim - 1979
* Sinatra-Jobim Sessions - 1979
* Terra Brasilis I & II - 1980
* Edu & Tom / Tom & Edu - 1981
* Gabriela, Trilha do Filme - 1983
* O Tempo e o Vento - 1985
* Para Viver um Grande Amor, Trilha do Filme - 1985
* Rio Revisited (com Gal Costa) - 1987
* Passarim - 1987
* Tom Jobim (inédito) - 1987
* No Tom da Mangueira - 1991
* Antônio Brasileiro - 1994
* Antônio Carlos Jobim and Friends - 1996
* Antônio Carlos Jobim em Minas ao vivo: Piano e Voz - 2004

Ver também

* Vinicius de Moraes
* Chico Buarque
* Toquinho
* Mutinho
* Heitor Villa-Lobos
* Antônio Carlos Gomes
* Baden Powell de Aquino

Bibliografia

* Helena Jobim: Antônio Carlos Jobim, um Homem Iluminado, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
* Luis Carlos Lisboa: A vida de Tom Jobim, Rio de Janeiro: Rio Cultura/Faculdades Integradas Estácio de Sá, 1983.
* Sérgio Cabral: Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, Rio de Janeiro: Lumiar, 1997.
* Márcia Cezimbra, Tárik de Souza e Tessy Callado: Tons sobre Tom.

Vinicius de Moraes, o poetinha do Brasil.

Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes[1] (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) foi um diplomata, jornalista, poeta e compositor brasileiro.

Poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido) notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.

Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.

Filho de Clodoaldo Pereira da Silva Morais (funcionário da Prefeitura, poeta e violonista amador) e Lidia Cruz (pianista amadora), Vinicius nasceu em 1913 no bairro da Gávea, na então capital brasileira, em 1916 mudou-se com a família para Botafogo, onde estudou na Escola Primária Afrânio Peixoto - onde escreveu seus primeiros versos. Em 1922, a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, mas ele permaneceu com o avô, a fim de terminar o curso primário. Em finais de semana durante os períodos de férias, os pais de Vinicius costumavam receber em casa a presença de Henrique de Melo Morais, tio de Vinicius, e do compositor Bororó.

Vinicius de Moraes ingressou no Colégio Santo Inácio em 1924, onde passou a cantar no coro e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos depois, tornou-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e sua família voltou a morar na Gávea. Nesse mesmo ano, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que até 1937 funcionou no Casarão do Catete. Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.

Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos depois, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.

No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). No ano seguinte, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.

Além da carreira diplomática, de onde atuou até o final de 1968, Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", obra de 1954. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.

Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.

O começo

No fim dos anos 1920, Vinicius de Moraes produziu letras para dez canções gravadas - nove delas parcerias com os Irmãos Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928, quando compôs (com Haroldo) "Loura ou Morena", gravado em 1932 pela dupla de irmãos. Vinicius teve publicado seu primeiro livro de poemas, "O Caminho para a Distância", em 1933, e lançou outros livros de poemas nessa década. Foram também gravadas outras canções de sua autoria, como "Dor de uma Saudade" (composta com Joaquim Medina), gravada em 1933 por João Petra de Barros e Joaquim Medina, "O Beijo Que Você Não Quis Dar" (composta com Haroldo Tapajós) e "Canção da Noite" (composta com Paulo Tapajós), ambas gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e também "Canção para Alguém" (composta com Haroldo Tapajós), gravada pelos mesmos um ano depois.

Ainda na década de 1930, Vinicius de Moraes estabeleceu amizade com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Em sua fase considerada mística, ele recebeu o "Prêmio Felipe D'Oliveira" pelo livro "Forma e Exegese", de 1935. No ano seguinte, lançou o livro "Ariana, a Mulher".

Mudança de fase

Nos anos 1940, suas obras literárias foram marcadas por versos em linguagem mais simples, sensual e, por vezes, carregados de temas sociais. Vinicius de Moraes publicou os livros "Cinco Elegias" (1943), que marcou esta nova fase, e "Poemas, Sonetos e Baladas" (1946) -obra ilustrada com 22 desenhos de Carlos Leão. Atuando como jornalista e crítico de cinema em diversos jornais, Vinicius lançou em 1947, com Alex Vianny, a revista "Filme". Dois anos depois, publicou em Barcelona o livro "Pátria Minha".

De volta ao Brasil no início dos anos 1950, após servir ao Itamaraty nos Estados Unidos, Vinicius começou a trabalhar no jornal "Última Hora", exercendo funções burocráticas na sede do Ministério das Relações Exteriores.

Em 1953, Aracy de Almeida gravou "Quando Tu Passas Por Mim", primeiro samba de sua autoria. Escrita com Antônio Maria, a canção foi dedicado à esposa Tati de Moraes -e marcava também o fim do seu casamento. Ainda naquele ano, Vinícus foi para Paris como segundo secretário da embaixada brasileira. Aracy de Almeida também gravou "Dobrado de Amor a São Paulo" (outra parceria com Antônio Maria), em 1954.

"Orfeu" e o amigo "Tom"

Também naquele ano, sua peça teatral "Orfeu da Conceição" foi premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo e publicada na revista "Anhembi". No ano seguinte, publicou sua "Antologia Poética".

Em 1956, Vinicius montou esta peça, desta vez com cenário de Oscar Niemeyer e a música de um jovem pianista, que lhe foi apresentado por Lúcio Rangel no Bar Gouveia (em frente à Academia Brasileira de Letras): Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Desse encontro, nasceria uma das mais fecundas parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente. Os dois compuseram a trilha sonora, que incluia "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra]]. A peça estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além destas canções, a dupla Vinicius e Tom compuseram, entre outros clássicos, "A Felicidade", "Chega de Saudade", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Garota de Ipanema", "Insensatez"', entre outras belas canções.

Entre 1957 a 1958, o diretor de cinema francês Marcel Camus filmou, no Rio de Janeiro, "Orfeu do Carnaval" -que recebeu o nome de "Orfeu Negro". Vinicius compôs para o filme "A Felicidade" e "O Nosso Amor". Um ano depois, o filme seria contemplado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Em 1957, o poeta teve sua carreira diplomática transferida para Montevidéu, onde permaneceu por três anos.

A Bossa Nova

O ano de 1958 marcaria o início de um dos movimentos mais importantes da música brasileira, a Bossa Nova. A pedra fundamental do movimento veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado pela cantora Elizeth Cardoso. Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções de autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana", "Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade", em interpretações vocais intimistas.

"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquela novo movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a participação de um jovem violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado por uma nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo inteiro a partir dali. O nome deste violonista é João Gilberto. A importância do disco "Canção do Amor Demais" é tamanha que ele é tido como referência por muitos artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso.

Várias das composições de Vinicius foram gravadas na metade final daquela década por outros artistas. Joel de Almeida gravou "Loura ou Morena" (1956). No ano seguinte, Aracy de Almeida gravou "Bom Dia, Tristeza" (composta com Adoniran Barbosa), Tito Madi gravou "Se Todos Fossem Iguais A Você", Bill Farr gravou "Eu Não Existo Sem Você", Agnaldo Rayol gravou "Serenata do Adeus" e Albertinho Fortuna gravou "Eu Sei Que Vou Te Amar". "O Nosso Amor" e "A Felicidade" foram duas das canções mais lançadas no final daquela década. A primeira foi gravada por Lueli Figueiró e Diana Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi lançada por Lueli Figueiró, Lenita Bruno, Agostinho dos Santos e João Gilberto.

Servindo ao Itamaraty em Montevidéu desde 1957, Vinicius de Moraes deixaria a embaixada brasileira no Uruguai somente em 1960. Suas canções continuaram sendo gravadas por muitos artistas no início dos anos 1960. Foram lançadas "Janelas Abertas" (composta com Tom Jobim), por Jandira Gonçalves, e "Bate Coração", (composta com Antônio Maria), por Marianna Porto de Aragão, cantora cultuada na época como um das vozes mais poderosas de toda uma geracao de cantoras .

Novas parcerias

No ano seguinte, Vinicius registrou pela primeira vez sua voz, em um álbum contendo os sambas "Água de Beber" e "Lamento no Morro", novamente parcerias com Tom Jobim. O poeta teria também um novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e violonista Carlos Lyra. Com ele, Vinicius iria compor clássicos como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda" "A Primeira Namorada" e "Nada Como Te Amar". Ainda em 1961, o "Teatro Santa Rosa" foi inaugurado no Rio de Janeiro com "Procura-se uma rosa", peça de autoria de Vinicius, Pedro Bloch e Gláucio Gil - filmada depois pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per Tutti" (o longa-metragem foi rodado no Rio e estrelado por Cláudia Cardinale).

Em 1962, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Serenata do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores", marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de "Jesus, Alegria dos Homens", de Johann Sebastian Bach. Ainda naquele ano, enquanto "Canção da Eterna Despedida" (composta com Tom Jobim) "Em Noite de Luar" (composta com Ary Barroso) foram gravadas por Orlando Silva e Ângela Maria, respectivamente, Vinicius de Moraes publicou três livros: "Antologia Poética", "Procura-se Uma Rosa" e "Para Viver Um Grande Amor".

Com Pixinguinha, compôs a trilha sonora do filme "Sol sobre a Lama", de Alex Vianny, escrevendo as letras para os chorinhos "Lamento" e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a parceria com o compositor e violonista Baden Powell. Desta, resultariam inúmeros sucessos, como "Apelo", "Canção de Amor", "Canto de Ossanha", "Formosa", "Mulher Carioca" "Paz", "Pra Que Chorar", "Samba da Bênção", "Samba Em Prelúdio", "Só Por Amor", "Tem Dó", "Tempo Feliz", entre outras.

Em agosto de 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo Os Cariocas, Vinicius de Moraes participou de "Encontro", um dos mais importantes concertos da bossa nova e realizado na boate "Au Bon Gourmet", no Rio de Janeiro. Neste show, foram lançadas clássicos da música popular brasileira como "Ela é Carioca", "Garota de Ipanema", "Insensatez", "Samba do Avião" e "Só Danço Samba". Naquela mesma casa noturna foi montada "Pobre Menina Rica", mais uma peça do poeta, cuja trilha sonora trazia canções como "Sabe Você", "Primavera" e "Samba do Carioca" (lançando a cantora Nara Leão), ambas parcerias com Carlos Lyra. Ainda naquele ano, Vinicius comporia com Lyra "Marcha da Quarta-feira de Cinzas" e a bela "Minha Namorada".

Várias daquelas seriam gravadas em 1963. Jorge Goulart gravou "Marcha da Quarta-feira de Cinzas", Elizeth Cardoso gravou "Mulher Carioca" e "Menino Travesso" (composta com Moacir Santos), Elza Soares gravou "Só Danço Samba", Pery Ribeiro e o Tamba Trio gravaram "Garota de Ipanema" e Jair Rodrigues gravou "O Morro Não Tem Vez" (composta com Tom Jobim).

Naquele mesmo período, Vinicius de Moraes lançou com a atriz Odete Lara seu primeiro álbum: "Vinicius e Odete Lara". Com arranjos e regência do poeta Moacir Santos, o LP continha canções da parceria com Baden Powell, como "Berimbau", "Mulher Carioca", "Samba em Prelúdio" e "Só por Amor", entre outras. Ainda em 1963, o selo Copacabana lançou o álbum "Elizeth Interpreta Vinicius", contendo as parcerias do poetinha com Baden Powell, Moacir Santos (e arranjos deste), Nilo Queiroz e Vadico.

Retorno ao Brasil

Em 1964, Vinicius retornou ao Brasil e logo se apresentou na boate "Zum Zum", ao lado de Dorival Caymmi, Quarteto em Cy e o Conjunto de Oscar Castro Neves. O concerto teve grande repercussão nos meios artísticos e foi lançado em LP pelo selo Elenco, contendo composições como "Bom-dia, Amigo" (parceria com Baden Powell), "Carta ao Tom", "Dia da Criação" e "Minha Namorada" (parcerias com Carlos Lyra), e "Adalgiza", "...Das Rosas", "História de Pescadores" e "Saudades da Bahia" (parcerias com o cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi).

Duas canções de Vinicius de Moraes concorreram, em 1965, o "I Festival Nacional de Música Popular Brasileira" (da extinta TV Excelsior). "Arrastão" (composta com Edu Lobo), defendida por Elis Regina, ficou com o primeiro lugar, e "Valsa do Amor que Não Vem" (parceria com Baden Powell), defendida por Elizeth Cardoso, ficou com o segundo lugar. Também com o arranjador, cantor e instrumentista Edu Lobo, Vinicius compôs "Zambi" e "Canção do Amanhecer" - canções que se engajaram no clima de protesto da época e foram apresentadas em projetos do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Por um breve período, Vinicius foi designado para trabalhar na delegação do Brasil junto à Unesco, na Europa. O poeta também trabalhou com o diretor Leon Hirszman no roteiro do filme "Garota de Ipanema", voltou a se apresentar no Zum Zum com Dorival Caymmi e lançou o livro "Cordélia e o Peregrino".

Ainda em 1965, o Teatro Municipal de São Paulo foi o palco de uma homenagem para o poetinha, com o show "Vinicius: Poesia e Canção", espetáculo que contou com a participação da Orquestra Sinfônica de São Paulo (sob a regência do maestro Diogo Pacheco). As composições apresentadas receberam arranjos dos maestros Guerra Peixe, Radamés Gnattali, Luís Eça, Gaya e Luís Chaves e contou com intérpretes com Carlos Lyra, Edu Lobo, Suzana de Morais, Francis Hime, Paulo Autran, Cyro Monteiro e Baden Powell. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se Todos Fossem Iguais A Você", a platéia respondeu com dez minutos ininterruptos de aplausos.

Em 1966, foi lançado o álbum "Os Afro-Sambas", com suas composições em parceria com Baden Powell. Constam do repertório do disco "Canto de Ossanha", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá" e "Lamento de Exu", entre outras, além da participação de Powell tocando violão. Naquele mesmo período, Vinicius participou do concerto "Pois É", no Teatro Opinião, , ao lado de Maria Bethânia e Gilberto Gil. No espetáculo dirigido pelo arranjador, compositor, maestro e pianista Francis Hime, o público carioca conheceu pela primeira vez as canções de Gilberto Gil. Ainda naquele ano, o poetinha lançou o livro de crônicas "Para Uma Menina Com Uma Flor" e também foi convidado a participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu que sua canção "Samba da Bênção" havia sido utilizada, sem os devidos créditos, na trilha sonora do filme "Um Homem e Uma Mulher", do diretor francês Claude Lelouch, vencedor do festival. Após uma ameaça de processo, a obra de Lelouch creditou a canção de Vinicius. O ano de 1967 marcou a estréia do filme "Garota de Ipanema", baseado no sucesso homônimo de Vínicius. É a canção brasileira mais conhecida no mundo depois de "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso). Ainda naquele período, o poetinha organizou um festival de artes em Ouro Preto e excursionou para a Argentina e o Uruguai.

Aposentadoria compulsória

Durante 1968, Vinicius de Moraes participou de shows em Lisboa, na companhia de Chico Buarque e Nara Leão. Também naquele ano, a convite do crítico Ricardo Cravo Albin, Vinicius prestou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som (de onde era membro do Conselho Superior de MPB).

Mas o ano de 1968 marcou o fim da carreira diplomática de Vinicius de Moraes. Após 26 anos de serviços prestados ao MRE, Vinicius foi aposentado pelo Ato Institucional 5, fato que o magoou profundamente. No dia em que o ato era editado, Vinicius encontrava-se em Portugal onde realizava um concerto. Após este espetáculo, estudantes salazaristas estavam aglomerados na porta do teatro para protestar contra o poeta. Avisado disto e aconselhado a se retirar pelos fundos do teatro, o poetinha preferiu enfrentar os protestos e, parando diante dos manifestantes, começou a declamar "Poética I" ("De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo"). Então, um dos jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e a colocou no chão para que Vinicius pudesse passar sobre ela — ato imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma tradicional de homenagem acadêmica.

Em 1969, Vinicius de Moraes publicou o livro "Obra Poética" e se apresentou ao lado de Maria Creuza e Dorival Caymmi em Punta del Este. O poetinha também fez recital na Livraria Quadrante, em Lisboa, apresentando, entre outros, os poemas "A Uma Mulher", "O Falso Mendigo", "Sob o Trópico de Câncer" (no qual trabalhou durante nove anos) e "Soneto da Intimidade". O evento foi gravado ao vivo e lançado em LP pelo selo Festa. Ainda naquele ano, Vinicius fez apresentações em Buenos Aires, ao lado de Caymmi, Baden Powell, Quarteto em Cy e Oscar Castro Neves.

Parceria com Toquinho

Naquele mesmo período, iniciou suas primeiras composições com um novo parceiro, o violonista Toquinho. Desta parceria, viriam clássicos como "Como Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e "Testamento".

Em 1970, Vinicius se apresentou na a casa de espetáculo carioca Canecão, com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a cantora Miúcha. O show, que relembrou a trajetória do poeta, ficou quase um ano em cartaz devido ao grande sucesso obtido. Outra apresentação marcante de Vinícus de Moraes, ao lado de Toquinho e da cantora Maria Creuza, foi em Buenos Aires, na boate La Fusa. O antológico concerto resultaria no LP ao vivo "Vinicius En La Fusa", uma das mais belas jóias gravadas ao vivo da música brasileira. No repertório, interpretado de modo espetácular pela cantora baiana, estavam entre outras "A Felicidade", "Garota de Ipanema", "Irene", "Lamento no Morro" "Canto de Ossanha" (canção muita aplaudida pela platéia argentina), "Samba em Prelúdio", "Eu Sei Que Vou Te Amar" (canção que contou ainda com a declamação do poetinha de "Soneto da Fidelidade", para delírio do público argentino), "Minha Namorada" e "Se Todos Fossem Iguais A Você", que encerrou o magnífico concerto. No ano seguinte, Vinicius voltou a Fusa para gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez com a cantora Maria Bethânia nos vocais. Neste álbum estão presentes canções com "A Tonga da Mironga do Kabulete", "Testamento" e "Tarde em Itapoã". Também em 1971, assinou com Chico Buarque, sobre antigo choro de "Garoto", a canção "Gente Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e, pouco depois, por Ângela Maria.

A parceria Vinicius/Toquinho excursionou por várias cidades brasileiras e também pelo exterior. Ainda em 1971, a dupla lançou seu primeiro LP de estúdio, com destaque para "Maria Vai com as Outras", "Morena Flor", "A Rosa Desfolhada" e "Testamento". Em 1972, eles lançaram o álbum "São Demais os Perigos Dessa Vida", contendo - além da faixa-título - grandes sucessos como "Cotidiano nº 2", "Para Viver Um Grande Amor" e "Regra três". Com Toquinho, também compôs a trilha sonora da telenovela "Nossa Filha Gabriela" (da extinta TV Tupi), registrada em disco neaquele mesmo ano. No ano seguinte, a dupla se apresentou no show "O Poeta, a Moça e o Violão", com a cantora Clara Nunes no Teatro Castro Alves, em Salvador.

Em 1974, Vinicius e Toquinho compuseram "As Cores de Abril" e "Como É Duro Trabalhar", ambas incluídas na trilha sonora da novela "Fogo Sobre Terra" (da Rede Globo). Naquele mesmo ano, a parceria lançou o álbum "Toquinho, Vinicius e Amigos". O disco teve as participações de Maria Bethânia (em "Apelo" e "Viramundo") , Cyro Monteiro ("Que Martírio" e "Você Errou", últimas gravações deste cantor), Maria Creuza ("Tomara" e "Lamento no Morro"), Sergio Endrigo ("Poema Degli Occhi" e "La Casa") e Chico Buarque ("Desencontro"). Ainda naquele ano, a dupla lançou "Vinicius e Toquinho", quarto álbum de estúdio da parceria, que trazia composições de autoria deles, como "Samba do Jato", "Sem Medo" e "Tudo Na Mais Santa Paz", e ainda "Samba pra Vinicius", homenagem ao poetinha de Toquinho e Chico Buarque, que fez uma participação especial no disco.

Em 1975, Vinicius do Moraes lançou o álbum "O Poeta e o Violão". Gravado em Milão, o LP teve a participação especial dos maestros Bacalov e Bardotti. No mesmo ano, a gravadora Philips lançou o álbum "Vinicius e Toquinho". Deste LP, destaca-se "Onde Anda Você" - parceria com Hermano Silva e que alcançou grande sucesso. Ainda naquele ano, Vinicius lançou o livro de poemas infantis "A Arca de Noé". Foram lançados em no ano seguinte os álbuns "Ornella Vanoni, Vinicius de Moraes e Toquinho - La voglia/ La pazzia/ L'inconscienza/ L'allegria" e "Deus lhe Pague" - este com as composições da parceria Vinicius e Edu Lobo.

Vinicius teve publicado, em 1977, o livro "O Breve Momento", com 15 serigrafias de Carlos Leão. Naquele ano, o selo Philips lançou o álbum "Antologia Poética", uma seleção da obra poética do poetinha e que teve a participação especial de Tom Jobim, Francis Hime e Toquinho. A gravadora Som Livre disponibilizou no mercado o LP "Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no Canecão". Em 1978, foi lançado o álbum "Vinicius e Amália", disco gravado em Lisboa com a cantora portuguesa Amália Rodrigues. Naquele mesmo ano, foi editado o álbum "10 Anos de Toquinho e Vinicius" - uma coletânea de uma década de trabalhos da dupla. Em 1980, foi lançado o álbum "Arca de Noé", que trouxe diversos intérpretes para as composições infantis do poeta, musicadas a partir do livro homônimo. O disco gerou um especial infantil na Rede Globo, naquele mesmo ano.

A morte do "poetinha"

Na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes começou a se sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, vindo a falecer pouco depois. O poeta passara o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planejava os últimos detalhes do volume 2 do álbum "Arca de Noé". Em 1981, este LP foi lançado.

Mesmo após a morte, a obra musical de Vinicius manteve-se prestigiada na música brasileira. Foram lançados os álbuns "Toquinho, Vinicius e Maria Creuza - O Grande Encontro" (1988) e "A História dos Shows Inesquecíveis - Poeta, Moça e Violão: Vinicius, Clara e Toquinho" (1991), além de terem sido lançados livros sobre o poeta, como "Vinicius de Moraes - Livro de letras" (1993), de José Castelo, "Vinicius de Moraes" (1995), também de José Castelo, "Vinicius de Moraes" (1997), de Geraldo Carneiro (uma edição ampliada do livro publicado em 1984). Ainda em 1993, Almir Chediak editou os três volumes do "Songbook Vinicius de Moraes".

Por ocasião dos vinte anos da morte do poeta, em 2000, a Praia de Ipanema foi o palco de um show em homenagem a Vinicius, que contou com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Menescal, Wanda Sá, Zimbo Trio, Os Cariocas, Emílio Santiago e Toquinho, interpretando composições de sua autoria.

Em 2003, ano em que o poeta completaria seu 90º aniversário, foram lançados vários projetos em tributo à sua criação artística. Também foi lançado o website oficial de Vinicius.

Em 2005, "The Girl from Ipanema", versão em inglês de "Garota de "Ipanema", de Astrud Gilberto, Tom Jobim, João Gilberto e Stan Getz, realizada em 1963, foi escolhida como uma das 50 grandes obras musicais da Humanidade pela Biblioteca do Congresso Americano. Ainda em 2005, estreou, na abertura da sétima edição do "Festival do Rio", o documentário "Vinicius", dirigido por Miguel Faria Jr e produzido por Suzana de Moraes, filha do poeta, com a participação de Chico Buarque, Carlos Lyra, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Mariana de Morais e Olívia Byington, entre outros convidados. A trilha sonora do filme foi lançada em CD.

Em 2006, foi lançada a caixa "Vinicius de Moraes & Amigos", com cinco álbuns do poetinha, contendo 70 canções compiladas de fonogramas gravados por vários intérpretes e pelo próprio Vinicius (solo ou em dueto. A caixa incluiu ainda um livreto com a biografia do homenageado e as letras de todas as canções.

João Gilberto, o canarinho de pedra.

João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira (Juazeiro, 10 de junho de 1931), mais conhecido como João Gilberto é um músico brasileiro, considerado o criador do ritmo bossa nova.

Nascido na Bahia, na cidade sertaneja de Juazeiro, João ganhou um violão aos 14 anos de idade, e, desde então, jamais o largou. Na década de 1940, adorava escutar de Duke Ellington e Tommy Dorsey até Dorival Caymmi e Dalva de Oliveira. Aos 18 anos decide se mudar para Salvador com intenção de ser cantor de rádio e crooner. Em seguida, foi para o Rio de Janeiro, em 1950, e teve algum sucesso cantando no grupo Garotos da Lua. Entretanto, foi posto para fora da banda por indisciplina, passando alguns anos numa existência marginal, ainda que obcecado com a idéia de criar uma nova forma de expressar-se com o violão. Seu esforço finalmente foi recompensado e, após conhecer Tom Jobim - pianista acostumado à música clássica e também compositor, influenciado pela música norte-americana da época (principalmente o jazz) - e um grupo de estudantes universitários de classe média, também músicos, lançaram o movimento que ficou conhecido por bossa nova.

O ritmo da bossa nova é uma mistura do ritmo sincopado da percussão do samba numa forma simplificada e a ao mesmo tempo sofisticada, que pode ser tocada num violão (sem acompanhamento adicional), cuja técnica foi inventada por João Gilberto. Quanto à técnica vocal (parte integral do conceito de bossa nova), é uma técnica de cantar em tom de voz uniforme, com voz emitida sem vibrato, e com um fraseado disposto de forma única e não-convencional (ora antecipando, ora depois da base rítmica), e de forma a eliminar quase todo o ruído da respiração e outras imperfeições.

Apesar da fama com a então recém-criada bossa nova, sua primeira gravação lançada comercialmente foi uma participação como violonista no disco de Elizeth Cardoso de 1958 intitulado Canção do Amor Demais, composto por canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Pouco depois desta gravação, João Gilberto gravou seu primeiro LP, Chega de Saudade. A faixa-título, composta por Tom e que também aparecia no álbum de Elizeth Cardoso, foi sucesso no Brasil, lançando a carreira de João Gilberto e, por conseqüência, todo o movimento da bossa nova. Além de algumas composições de Tom Jobim, o álbum apresentava sambas mais antigos e músicas populares na década de 1930, porém todas tocadas em ritmo de bossa nova. Este álbum foi seguido de outros dois, em 1960 e 1961, nos quais ele apresentou músicas novas de uma nova geração de cantores e compositores, como Carlos Lyra e Roberto Menescal.

Por volta de 1962, a bossa nova tinha sido adotada por músicos de jazz norte-americanos, tais como Herbie Mann, Charlie Byrd e Stan Getz. A convite de Stan Getz, João Gilberto e Tom Jobim colaboraram naquele que se tornou um dos melhores álbuns de jazz de todos os tempos, Getz/Gilberto. Com este álbum, Astrud Gilberto esposa de João Gilberto na época, se tornou uma estrela internacional, e a composição de Jobim Garota de Ipanema (em sua versão em inglês, The Girl from Ipanema) se tornou um sucesso mundial, e modelo pop para todas as idades.

João Gilberto continuou a fazer espetáculos na década de 1960, porém não lançou outros trabalhos até 1968, quando gravou Ela é Carioca, durante o tempo em que residiu no México. O disco João Gilberto, algumas vezes chamado de "o álbum branco" da bossa nova (em alusão ao álbum branco dos Beatles) foi lançado em 1973, e apresenta uma sensibilidade musical quase mística, sua primeira mudança de estilo perceptível após uma década. O ano de 1976 viu o lançamento do disco The Best of Two Worlds, com a participação de Stan Getz e da cantora Miúcha, que se tornara a segunda esposa de João Gilberto em abril de 1965. Amoroso, de 1977, teve os arranjos de Claus Ogerman, que buscou uma sonoridade similar à de Tom Jobim. O repertório era composto de velhos sambas e alguns padrões musicais norte-americanos da década de 1940.

Nos anos 80 no Brasil, João Gilberto colaborou com Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia (criadores, em fins da década de 1960, do movimento conhecido como Tropicália). Em 1991 lançou o disco João, que não tinha nenhuma composição de Tom Jobim. Ao invés disso, teve trabalhos de Caetano, Cole Porter e de compositores de língua espanhola. João Voz E Violão, lançado em 2000, assinalou um retorno aos clássicos da bossa nova, como "Chega de Saudade" e "Desafinado". O CD, uma homenagem à música de sua juventude, foi produzido por Caetano Veloso.

Intercaladas com estas gravações em estúdio, surgiram também gravações ao vivo, como Live in Montreux, Prado Pereira de Oliveira ou Live at Umbria Jazz.

[editar] Atualmente

Anunciada uma das raras turnês de João em 2008 pelo Brasil, disputados em filas homéricas os ingressos, para duas apresentações no Auditório Ibirapuera em São Paulo foram todos vendidos em aproximadamente uma hora, no Rio de Janeiro, para uma apresentação no Theatro Municipal, o mesmo aconteceu. Nos concertos de São Paulo as grandes surpresas foram a execução de canções não antes registradas por João, como 13 de Ouro, Dor de Cotovelo, Hino Ao Sol / O Mar, Chove Lá Fora, Dobrado de Amor a São Paulo, e uma música inédita de sua própria autoria, em homenagem ao Japão.

História da Bossa Nova

A bossa nova é um movimento da música popular brasileira surgido no final da década de 1950 e início da de 1960. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, especialmente associado a João Gilberto, Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim e Luiz Bonfá.

A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.

Alguns críticos musicais destacam a grande influência que a cultura estadosunidense do Pós-Guerra, de musicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do jazz. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova.

Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais freqüentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.

Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.

No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a idéia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - , através de um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova".